quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Maranhão. MPF cobra diálogo do governo com quilombolas sobre ampliação da base de Alcântara.

MPF cobra diálogo do governo com quilombolas sobre ampliação da base de Alcântara
Foto: Cleia Viana/Agência Câmara
Expansão do centro de lançamento da Aeronáutica acarretaria remoção das comunidades tradicionais, contrariando tratado internacional assinado pelo Brasil.
Em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados nessa quarta-feira (20), o Ministério Público Federal (MPF) cobrou mais diálogo do governo com as comunidades quilombolas do entorno da base militar de Alcântara, no Maranhão – cuja suposta ampliação está sendo discutida pelo Ministério da Defesa.
Na opinião da procuradora regional da República Eliana Torelly, representante da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR/MPF), chama atenção a falta de transparência com que a expansão da base de lançamento de foguetes da Aeronáutica está sendo discutida.
“Até o momento, as informações sobre a ampliação da área do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) são apenas rumores, notícias e declarações de autoridades à imprensa”, afirmou Eliana Torelly, ressaltando que, apesar do convite, ninguém do Ministério da Defesa foi à audiência pública para explicar a real situação da região.
Em julho, o MPF solicitou informações ao Ministério da Defesa sobre os projetos de expansão da base de lançamento. Até o momento, no entanto, não recebeu resposta. Segundo informações encaminhadas pelos quilombolas ao Ministério Público, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve em Alcântara, em maio deste ano, para tratar do projeto expansionista no local. De acordo com informações extraoficiais, o projeto de ampliação da base de lançamento poderá ceder utilização da área para países estrangeiros, como Estados Unidos, França e Rússia.
Diálogo – Para a procuradora regional da República, qualquer alteração na área do território historicamente pertencente aos quilombolas deve ser realizada após consulta prévia e amplo diálogo com a comunidade. “Há um temor enorme entre os quilombolas porque eles já passaram por situações extremamente traumáticas em Alcântara. Atualmente, depois de 30 anos, estão novamente adaptados àquele ambiente. Só esta expectativa já é considerada uma grande ameaça à comunidade”, explica.
Caso os rumores de ampliação da área do centro de lançamento se concretizem, os quilombolas que atualmente ocupam a região seriam removidos à força de suas terras. A retirada das comunidades, além de desrespeitar a tradição brasileira, romperia o acordo firmado entre o MPF a União, em 2008, e a Convenção 169 sobre povos indígenas e tribais, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Visita – Entre os dias 29 e 31 de agosto, o MPF participou de uma missão no território quilombola de Alcântara com o objetivo de verificar as condições das comunidades locais. A visita fez parte das atividades do Grupo de Trabalho (GT) Direitos dos Povos e Comunidades Quilombolas, do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH).
O Ministério Público pôde acompanhar de perto a luta dos quilombolas desde a instalação da base de lançamento, em 1983, e a narrativa das comunidades que foram removidas de suas terras para agrovilas – que ocorreu sem a necessária consulta”, relata Eliana Torelly. “Em poucos dias, eles saíram de um local com fartura de recursos naturais para a escassez das agrovilas”, conta.
A região de Alcântara tem mais de 150 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares. A tensão na localidade começou no início da década de 1980, quando foram cedidas as primeiras terras para a implantação do CLA.
Audiência – Além de Eliana Torelly, representando o MPF, participaram da audiência pública na Câmara dos Deputados: o coordenador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas, Denildo Rodrigues de Moraes; o coordenador do Grupo de Trabalho dos Direitos dos Povos e Comunidades Quilombolas, Paulo Maldos; e o defensor público José Roberto Fani Tambasco, membro do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Tradicionais.
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