sexta-feira, 21 de abril de 2017

Entrevista com Adriana Oliveira presidente da CUT/Maranhão.

 
Foto - Adriana Oliveira, presidente estadual da CUT/MA.
Há muito tempo este blogueiro acalenta a idéia de criar uma série de entrevistas com pessoas que fazem o Maranhão acontecer, apresentando a face humana das pessoas que fazem a luta social no dia a dia, pessoas que atuam junto aos movimentos sociais, porém muitas vezes ignoradas pelos meios de comunicações.

Dentro desta abordagem humanística iniciaremos esta série entrevistando à Adriana Oliveira, a primeira mulher a presidir a Central Única dos Trabalhadores, Secção Maranhão – CUT/MA.

Adriana, mulher negra, agricultora familiar, hoje assentada da reforma agrária pelo Incra/MA no Assentamento Novo Oriente, em Açailândia/MA. Atuando há 28 anos ininterruptamente na luta sindical e na militância social, sobretudo no reconhecimento dos direitos e valores da mulher, sendo simultaneamente mãe e dona de casa e trabalhadora, como a grande maioria das mulheres na atualidade.

Começamos esta entrevista relatando um pouco de sua infância, onde ela fitando o vazio do tempo, relembra algo que ficou marcado na sua alma para toda a sua existência terrena, cita “pessoas pegando em meu cabelo e dizendo pra minha mãe, que ela precisava melhorar meu cabelo, alisá-lo, cortá-lo, para meu cabelo deixar de ser um fuar”. Esse fato só vem evidencia a sutileza do preconceito velado existente em nossa sociedade.

Adriana nasceu na localidade de mata de São Benedito, no município de Itapecuru-mirim. Saindo de casa pré-adolescente pra morar em casa de conhecidos brancos, indo cuidar de crianças em troca de comida e da promessa de estudar. Junto a esta família ela se tornou vendedora de frutas, legumes e verduras na feira local, atividade que desempenhou por um longo tempo. Convivendo com esta família ela estudou até a oitava serie, concluindo assim o antigo primeiro grau.





Nossa entrevistada, citando suas memorias, diz que Açailândia em 1980, era um grande polo de produção agrícola que produzia basicamente três produtos; arroz, milho e abóbora. Levando muitas famílias a migrarem para a região em busca de terra para trabalharem. E sua família foi mais uma dessas famílias que migraram para a região de Açailândia em 1984. No ano de 1986, sua mãe veio a falecer e por ser a filha mais velha entre as três mulheres da família, de um total de 12  filhos, Adriana retornou ao convívio dos seus familiares para ajudar a criar seus irmãos menores.

Ao voltar ao convívio família, Adriana foi convidada a se incorporar ao grupo de jovens da igreja católica, dentro da filosofia da teologia da libertação. Dai a militar no Movimento de ocupação dos Sem Terra, foi uma questão de tempo, pois, sabendo ler e escrever coube a ela, fazer o registro das atas das reuniões realizadas neste período pelos trabalhadores rurais assentados.

Outra data inesquecível para Adriana Oliveira foi sua filiação ao Partido dos Trabalhadores em 1992. Também neste mesmo ano foi criado o Assentamento Novo Oriente, com a assessoria da FASE. O Assentamento Novo Oriente, em processo montado e encaminhado pelo ex-superintendente do INCRA/MA, Raimundo Monteiro, sendo concluído o  processo de regularização fundiária com a assinatura do Decreto sem número, pela Presidente Dilma Houssef e publicado em 01 abril de 2016. Conheça um pouco mais sobre o Assentamento Novo Oriente neste link. (http://justicanostrilhos.org/2015/06/16/assentamento-novo -oriente-ma/).



Adriana destaca, que desde que começou a militar nos movimentos sociais e sindicais, somente após o inicio dos governos progressistas do PT, é que começou a se ver uma revolução silenciosa no campo, “nós trabalhadores rurais, tivemos um salto qualitativo na educação, hoje em dia o agricultor familiar, jovem ou maduro, retomou os estudos e pode sonhar em cursar uma faculdade.” E continua Adriana, “Temos moradia digna hoje em dia, quando falo em dignidade me refiro a nossa qualidade de vida, temos poço artesiano,  que nos garante água potável no assentamento, luz elétrica em casa, temos o mais médico, o Pronaf. Sou de uma família de 12 irmãos, nenhum de nós tinha seu documento pessoal, me refiro ao básico, o registro civil.”

Reitera Adriana, “foi com a chegada dos programas de inclusão social, como o bolsa família, que passamos a ver a necessidade de tirar nossos documentos, com a política de cotas passamos a nos enxergar como cidadãos e cidadãs brasileiros.” Hoje lhe digo “perdemos a vergonha de nos afirmarmos como negros”.

Adriana faz uma pausa, ao retornarmos nossa entrevista, ela enfatiza  “estamos aqui na sede da CUT empenhados, eu e meus companheiros a não deixar que estas conquistas sociais dos últimos trinta anos sejam destruídas para as gerações futuras, pois tudo que foi construído até agora, está ameaçado por este governo ilegítimo de Michel Temer”.

Após outra pausa, agora para atender uma ligação de um sindicalista de Bacabal, nossa entrevistada diz que viaja ainda essa tarde para essa região, enfatizando “nós da CUT/MA, estamos rodando o Estado todo, conjuntamente com a FETAEMA realizaremos inúmeros atos de protestos, no dia 28 de abril de 2017, nos municípios maranhenses”. 

 

E continua. “os sindicatos sejam urbanos ou rurais, irão conjuntamente dizer um basta ao ataque aos direitos dos trabalhadores do campo e da cidade, vamos juntos defendermos os direitos trabalhistas e sociais historicamente conquistados, distribuiremos panfletos e realizaremos debates, denunciando os ataques que estão sendo praticados contra a classe trabalhadora, vamos juntos dar um basta na destruição dos direitos da classe trabalhadora deste país, perpetrados pela classe política na Câmara dos Deputados e pelo governo do Michel Temer (PMDB)”.     

Texto de Chico Barros.

Leia mais: CUT Nacional divulga um detalhado relatório sobre a reforma trabalhista pretendida pelo governo Michel Temer (PMDB).  https://maranauta.blogspot.com.br/2017 /04/cut-nacional-divulga-um-detalhado.html

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