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Marinha diz que 70% da base foram destruídos, e Ministério da Defesa investiga curto-circuito
Roberto Maltchik
TRAGÉDIA NO GELO
A
Marinha contabilizou a destruição de 70% da Estação Antártica
Comandante Ferraz, após o incêndio que matou dois militares, feriu um
terceiro e causou sérios prejuízos à pesquisa científica brasileira no
continente gelado. O Ministério da Defesa investiga se um curto-circuito
na praça de máquinas da EACF provocou o acidente. No sábado, o ministro
da Defesa, Celso Amorim, disse que o planejamento da nova estação
Antártica, na Ilha Rei George, deve começar já a partir de hoje e a base
deve ser totalmente refeita em dois anos. Segundo o ministro, a nova
base terá uma arquitetura nova, mais "completa e orgânica".
-
A nossa ideia é imediatamente, já, chamar arquitetos para fazer
desenhos, inclusive um desenho mais novo. Não estou dizendo que é por
isso que aconteceu o incêndio, mas, obviamente, a base começou há 30
anos, então, ali ela foi agregando um pedaço ou outro. Agora já podemos
pensar numa coisa para o futuro, digamos, de maneira mais completa, mais
orgânica - disse Amorim.
Haverá
urgência no levantamento dos estragos na estrutura física dos
equipamentos de medição científica, bem como na elaboração do inventário
das informações científicas consumidas pelo fogo. Segundo a Marinha, o
prédio principal, onde ficava a parte habitável e alguns laboratórios da
estação, foi totalmente destruído. Porém, o ministro da Ciência e
Tecnologia informou que alguns contêineres, como os que armazenavam
equipamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), podem
ter sido preservados.
-
O programa antártico é estratégico para o país. Então, não pode parar,
obviamente. Temos que fazer esse inventário nas próximas semanas.
Equipamentos que fazem medições permanentes e tiveram que parar. Esse é o
exemplo das medições do oceano e da atmosfera. Parou isso? Isso tem que
ser continuado - explicou Raupp.
A
Marinha informou que os refúgios (módulos isolados para casos de
emergência), os laboratórios (de meteorologia, de química e de estudo da
alta atmosfera), os tanques de combustíveis e o heliponto, estruturas
isoladas do prédio principal, resistiram ao incêndio. O ministro da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I), Marco Antônio Raupp,
determinou a realização de estudo para avaliar se o navio polar
Almirante Maximiliano, que opera desde 2009 e auxiliou no resgate às
vítimas, terá condições para servir de base provisória.
Se esse uso do
navio for possível, o Brasil se valerá de um investimento de R$ 80
milhões, que resultou na construção de uma embarcação que opera com
capacidade para abrigar helicópteros UH-12/13 (Esquilo) e IH-6B (Bell
Jet Ranger), com um hangar climatizado. Foram instalados ainda cinco
laboratórios, sendo dois secos, dois molhados e um misto, os quais
abrigam modernos equipamentos para o desenvolvimento de projetos
científicos no ambiente antártico.
Programa não será interrompido
Raupp
salientou que projetos detecnologia avançada, como a Estação Antártica,
estão sempre sujeitos a acidentes. Entre os cientistas, consultados
pelo GLOBO, não há reclamação quanto a problemas de manutenção de
equipamentos ou da própria estrutura da EACF.
-
Os países que encaram o desafio de tocarem projetos de grande
complexidade tecnológica correm esse risco. Você deve se cercar de
condições de segurança e salvaguardas para evitar esse tipo de
ocorrência e outros danos. Mas dizer quenão vai acontecer nada, não
existe isso.
O
diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Jefferson Simões, diz que o programa antártico continuará
funcionando porque a Comandante Ferraz, apesar de concentrar uma parte
importante das pesquisas brasileiras, não era a única estação científica
brasileira. Ele explica que pelo menos metade dos pesquisadores
trabalha em navios de pesquisa ou em acampamentos isolados na Antártica.
--
O processo de reconstrução, para voltar ao nível em que estava,
demorará de dois a três anos. A logística é muito difícil e só podemos
construir durante o verão antártico. E o inverno já está chegando -
observa.
FONTE: http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha
Jornal O GLOBO de 27.02.2012
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