sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

“Anonymous” à caça dos governos (e da Rede Globo) depois dos protestos Anti-SOPA.

Quinn Norton





25/1/2012, Quinn Norton, Wired
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu





Ver também
3/1/2012, Anonymous” 101: Introdução aoLulz  [1], Quinn Norton, Wired (Parte I)
3/1/2012, Anonymous 101: O moralismo derrota o Lulz”, Quinn Norton, Wired  (Parte II)
23/1/2012,A únicaentrevista que Anonymous jamais deram” , The shorty interview
11/1/21012 – “2011: Anonymous contra polícia,ditadores e ameaça existencial” – Quinn Norton, Wired   



Na semana passada, os Anonymous lançaram sequência sem precedentes de ataques a páginas de governos e empresas, por todo o mundo. A fúria do enxame, que ano passado atacou Mubarak no Egito, volta-se agora contra outros governos em todo o mundo.

Repetidos ataques DDoS e de hacking, pelos Anonymous, parecem ser em boa parte uma resposta a propostas de arrocho na lei de propriedade intelectual à custa de uma internet aberta; e ao que os Anonymous veem como excessos no exercício do poder, por vários governos. Depois de atacar páginas de agências do governo dos EUA e dos grandes grupos proprietários de direitos autorais, em resposta contra a prisão de empregados da página de compartilhamento Megaupload, iniciou-se um novo round internacionalista, depois de mensagem distribuída por AnonyOps, numa espécie de “conta oficial” dos Anonymous no Twitter, no sábado [aqui traduzido]:
Se você odiou #SOPA, vai super odiar #ACTA [1]. Negociado em segredo. Buscas no iPod estão em jogo.
O controvertido tratado será votado em breve na Polônia, o que contribuiu para transformar convenientemente a indignação contra uma lei norte-americana de censura à internet, em proposta transnacional.
Os Anonymous uniram-se a ativistas digitais poloneses, para responder. No Facebook, ativistas montaram um protesto físico e criaram um dia de blackout, na 3ª-feira, semelhante ao blackout de protesto contra a lei SOPA. Os Anonymous deflagraram um ataque DDoS contra páginas do governo polonês e anunciaram que teriam invadido computadores de ministérios dos quais teriam extraído documentos.
A combinação de ataques anônimos e reação das autoridades polonesas trouxe à luz o sempre obscuro tratado ACTA e ampliou a discussão na Polônia sobre se o tratado ACTA realmente interessa à Polônia e à internet polonesa. O ministro da Administração e Digitalização Michał Boni declarou que o tratado seria assinado, com ou sem ameaças dos Anonymous ou protestos da população na Polônia; mas o tratado ainda terá de ser aprovado no Parlamento polonês, antes de ser convertido em lei.
Com o início das manifestações de rua na Polônia, alguns Anons distribuíram uma nota, dizendo que era hora de suspender os ataques DDoS e, com isso, caíram também os ataques DDoS contra alvos nos EUA. Na 4ª-feira, milhares de manifestantes saíram às ruas em várias cidades da Polônia, cantando e exibindo cartazes de protesto contra a assinatura do tratado, prevista para acontecer dia 26/1.
O tratado ACTA é acordo secreto, promovido e possivelmente redigido, pelo menos em parte, pelos mesmos interesses que acabam de ver atacados em pleno voo, pela internet, os planos que tinham para aprovar a lei SOPA: a indústria do entretenimento. Os termos do ACTA jamais foram bem discutidos publicamente, mas vazaram algumas versões do tratado, que revelaram que o ACTA inclui um dispositivo de lei pelo qual três acusações de infringir a lei implicariam o “acusado” ser expulso da Internet e uma volta ao estilo dos “portos seguros” do Digital Millennium Copyright Act (DMCA) de 1998, que permitiram o funcionamento de empresas como YouTube, Flickr, Tumblr, Twitter, Facebook e Google.
O governo Obama também já disse que não é necessário que o Congresso aprove o tratado, para torná-lo vigente nos EUA, e que será implementado por ordem executiva. A incapacidade da comunidade de internet para avaliar leis que podem afetar todos muito profundamente continua a ser frustrante.
“Todo o governo, basicamente, é sempre ‘levado no bico’, em todos os aspectos” – disse um Anon, no IRC envolvido com as ações anti-ACTA.
Na França, o movimento para deter a tramitação do Tratado ACTA floresceu em milhares de canais francófonos de servidores IRC dos Anonymous. Houve muitos ataques DDoS contra o império de mídia francês Vivendi. Centenas de falantes de francês, polonês e português tornaram os servidores AnonOps mais globais do que nunca antes.
Brasil: a violência policial em Pinheirinho
Outra parte dessa missão de envolvimento planetário veio à superfície no Brasil, onde um ataque de força policial contra uma favela chamada Pinheirinho também provocou a indignação e a ação do grupo Antisec – enquanto a expulsão violenta de mais de 5.000 moradores entra no quarto dia.
Hackers brasileiros pediram ajuda aos Anons “chapéu preto”, que informaram que teriam conseguido invadir dúzias de caixas no Brasil, cujos documentos teriam sido saqueados; informaram também que as chaves teriam sido passadas aos hackers brasileiros.
Antisec ajudou os brasileiros, porque eles pediram ajuda” – disse um Anon, num chat online, à revista Wired. “Eles consideram-se fãs e membros de Lulzsec e Antisec.”
Entre as páginas hackeadas estava uma página das Organizações Globo, grande conglomerado de mídia latino-americana que tem sede no Brasil  [2]. Numa das páginas liam-se agradecimentos a Sabu e #antisec, e a frase que talvez já seja a mais perfeita tradução do “espírito do tempo” na internet, semana passada: “Que porra está acontecendo no mundo?!” 
Segundo Biella Coleman, professora da cátedra Wolfe, de Alfabetização Científica e Tecnológica [orig. Chair in Scientific and Technological Literacy] da McGill University, o que está acontecendo é que uma geração de pessoas, cujo modo de vida já é inseparável da rede, sente sua cultura ser ameaçada e decide lutar.
“A operação tem raízes em algumas questões chave, que mobilizam profundamente os Anonymous e os entusiastas da internet: liberdade de expressão, censura e restrições de propriedade intelectual” – disse Coleman.
É impossível saber por quanto tempo o enxame manterá a energia e o foco, na disputa contra os governos do mundo. Muito dependerá de como os cidadãos, nos países afetados, apoiarão o que os Anonymous estão fazendo, nos próximos meses. Seja como for, ao longo dos últimos meses os Anonymous parecem estar-se transformado em força unificada de ativismo pela rede, a única força que está conseguindo ultrapassar barreiras nacionais, de jurisdições, de protocolos e de idiomas.
Desde a 4ª-feira passada, muitos Anons estão praticamente sem dormir, saltando de alvo para alvo, tentando derrubar páginas de governos e grandes empresas, ou atacando servidores, ou até, em alguns casos, os computadores pessoais de representantes de governos. “Mas o momento é crucial” – disse um Anon, no IRC, à revista Wired – “e a batalha nunca foi mais importante”.
Eles concordam que a ação tenha sido disparada pelo caso MegaUpload, alimentada depois pelo sucesso dos protestos difundidos pela internet contra as leis SOPA/PIPA, mas dizem que, depois, a ação ultrapassou essas duas questões. Um Anon viu a notícia das prisões [MegaUpload] e conectou-se para distribuí-la; mas as operações já estavam em andamento. Esse Anon previu que os Anonymous “vão ficar doidos”.
A1: Acho que é mais que isso. MegaUpload fazia serviço válido pra todos nós 
A2: e eles entraram e acabaram com tudo
A2: Quero dizer: essa é a parte principal
A1: Estamos doidos, porque hoje perdemos um grande sistema 
E não ficou nisso, porque vários outras páginas de hospedagem de arquivos foram derrubadas ou saíram voluntariamente do ar nos últimos dias, talvez tentando fugir à ação da lei norte-americana, ou desconectaram-se dos EUA e de países que seguem o regime de IP dos EUA.
No IRC, um Anon de Antisec chamou a atual situação de “a mais grave ameaça à nuvem”. 
“Os Federais fecharem uma página por força judicial é a mão de ferro em luva de veludo” – disse um Anon envolvido nas ações de DDoS e de antisec. 
Durante os ataques, legais e não legais, na França, Polônia, EUA, Brasil e outros, a ala Antisec “chapéu preto” dos Anonymous hackearam e desmontaram a página OnGuardOnline.gov, da Comissão de Comércio Federal [ing. Federal Trade Commission website], onde estão reunidas várias agências federais que ali recebem online informação de segurança de computadores. Antisec diz ter centenas de servidores já rastreados, mas essa ação visava a transmitir mensagem específica aos chamados “chapéus brancos” – os hackers profissionais que trabalham para grandes empresas e governos. A mensagem dizia (excerto):
#ANTISEC SEZ É HORA DE RETALIAR CONTRA SOPA/PIPA/ACTA. APROVEM ESSE LIXO E POREMOS ABAIXO METADE DA INTERNET CORPORATIVA (...)
Se as leis SOPA/PIPA/ACTA forem aprovadas, será guerra infinita contra a internet corporativa. Destruiremos dezenas e mais dezenas de páginas de governos e empresas. Enquanto vocês lêem aqui, estamos arregimentado nossos exércitos de sombras aliadas, arquitetando o próximo raid. Estamos sentados em centenas de servidores, nos aprontando para derrubar e-mails e serviços de vocês. As senhas? Suas preciosas contas bancárias? Detalhes de seus sexy-encontros virtuais? Vocês nem sabem o que os espera.
Não é a primeira vez que o coletivo distribui manifestos dramáticos e apocalípticos, ou movidos por húbris-arrogância hacker ou movidos pelo lulz, mas a ação, dessa vez, foi mais ampla e mantida por mais tempo que qualquer outra ação dos Anonymous, desde que se envolveram na Primavera Árabe. “Mostra também que os Anonymous continuam capazes de colher uma emoção generalizada e difusa de descontentamento e amplificá-la, torná-la visível, mediante a campanha de DDoS e as ações de publicidade e divulgação que eles criam e distribuem muito rapidamente. A grande novidade, de fato, nas operações recentes, é o grande número de páginas que conseguiram derrubar ou desmontar num único dia. A ação foi impressionantemente ampla” – disse Coleman.
Na 4ª-feira, a Comissão Federal de Comércio disse, pelo Twitter: “Essa Comissão levará a sério esse ato criminoso” –, num de uma longa série de tuítes sobre o assunto. A página continua fora do ar, até que todas as vulnerabilidades de segurança sejam identificadas e corrigidas.
Depois de derrubarem (ação que causou grande prejuízo) toda a rede PlayStation da Sony, na primavera passada, e depois que, em dezembro, hackers invadiram a empresa de inteligência privada Stratfor, de cujos servidores extraíram muitos dados (o que causou grande embaraço), o mundo das grandes corporações começa a temer os Anonymous. Medo de verdade.

Notas dos traditores
[1]  Acordo Comercial Anticontrafação [ing. Anti-Counterfeiting Trade Agreement (ACTA)].
[2]  Hoje, 26/1/2012, há mensagem dos Anonymous ao Brasil.  


Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/01/anonymous-caca-dos-governos-e-da-rede.html

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